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Sousa,28/04/2025

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Milei Pede Perdão a Francisco em Roma Após Duras Críticas Passadas

“Erros de Juventude', Respondeu o Papa


Milei Pede Perdão a Francisco em Roma Após Duras Críticas Passadas Papa Francisco durante audiência privada com o presidente argentino, Javier Milei, no Vaticano, em fevereiro de 2024 - 12.fev.24/AFP



Roma, Itália  – Em um cenário carregado de simbolismo, durante sua visita a Roma, o presidente argentino Javier Milei revelou ter pedido perdão ao Papa Francisco pelas críticas contundentes que proferiu contra ele no passado. O encontro, ocorrido em fevereiro de 2024, marcou um possível ponto de inflexão na relação, outrora tensa, entre o líder ultraliberal e o sumo pontífice.


A revelação, feita nesta sexta-feira (25) e divulgada inicialmente pelo jornal argentino Clarín, ganhou ainda mais relevância em virtude do recente falecimento do Papa Francisco, adicionando um peso emocional à narrativa. Usuários da rede social X (antigo Twitter) ressuscitaram declarações antigas do presidente, nas quais ele se referia ao Papa como “representante do maligno na Terra”, reacendendo debates sobre a postura de Milei em relação à figura papal.


“Sim, claro que pedi desculpas a ele. E ele me disse ‘Não esquenta, são erros de juventude’”, declarou Milei, referindo-se ao encontro de 12 de fevereiro. A resposta do Papa, segundo o presidente, demonstra uma postura de compreensão e magnanimidade, contrastando com a virulência das críticas passadas.


Milei posteriormente lamentou a morte de Francisco, tecendo elogios à sua figura. “É uma perda enorme para os argentinos. Algo fizemos de errado porque ele nunca quis vir à Argentina”, afirmou, demonstrando um reconhecimento do legado do pontífice e um pesar pela ausência de sua figura em solo argentino. “A perda de um ser humano sempre é dolorosíssima. É doloroso que tenha partido o argentino mais importante da história.”


Um Passado de Críticas Ácidas:


As divergências entre Milei e Francisco remontam a uma época anterior à ascensão do economista à presidência da Argentina. Milei, notavelmente um defensor ferrenho do liberalismo econômico, criticava abertamente a visão do Papa sobre o papel social do Estado, considerando-a incompatível com suas próprias convicções ideológicas. Em declarações passadas, o agora presidente chegou a chamar Francisco de “imbecil” e acusá-lo de ter “afinidade com comunistas assassinos”, além de alegar que o pontífice violava os Dez Mandamentos ao “defender a justiça social”.

 

Paradoxalmente, apesar das críticas ácidas, Milei convidou o Papa a visitar a Argentina, um gesto que não se concretizou. A relação, marcada por tensões e aparentes contradições, culminou no encontro em Roma, onde o pedido de desculpas sinalizou uma tentativa de reconciliação.


Durante o encontro na Basílica de São Pedro, no final da missa de canonização da beata Maria Antonia de Paz y Figueroa, conhecida como Mama Antula (1730 -1799), a primeira santa argentina, Milei curvou-se para cumprimentar e abraçar o Papa, um gesto que foi interpretado como um sinal de respeito e humildade.


Um Legado Controverso e a Relação Inexistente com a Argentina:


A morte de Francisco expõe uma relação mal resolvida do pontífice com sua terra natal. Em entrevista ao jornalista argentino Nelson Castro, para o livro "La Salud de los Papas" (a saúde dos papas, em espanhol), publicado em 2021, Francisco foi enfático: "Morrerei Como papa, em atividade ou emérito. Em Roma. Para a Argentina, não volto mais, não tenho saudades dela. Vivi lá 76 anos. O que me aflige são seus problemas".


Essa declaração, carregada de emoção e complexidade, revela um profundo sentimento de preocupação com os desafios enfrentados pela Argentina, mas também um distanciamento físico e emocional. A ausência de visitas ao país durante seu pontificado alimentou críticas e questionamentos, intensificando o debate sobre sua relação com a nação argentina.


A morte do Papa Francisco deixa um legado complexo e multifacetado, marcado por sua liderança na Igreja Católica, suas posições progressistas em temas sociais e sua relação, por vezes ambígua, com a Argentina. O pedido de perdão de Milei, embora tardio, sugere uma possível busca por reconciliação e um reconhecimento da importância da figura papal na história da Argentina e do mundo. O futuro dirá se esse gesto será suficiente para cicatrizar as feridas do passado e construir uma relação mais fraterna entre a Argentina e o Vaticano. A herança de Francisco, contudo, permanece como um marco indelével na história, inspirando reflexões sobre fé, política e o papel da Igreja no século XXI.


Interpretações e Implicações Políticas:


A atitude de Milei, inicialmente marcada por críticas duras, e a subsequente retratação levantam questões sobre estratégia política e adaptação a diferentes contextos. Analistas sugerem que, ao buscar o perdão do Papa, Milei pode estar visando a uma aproximação com setores mais moderados da sociedade argentina e buscando apoio internacional para suas políticas econômicas. A figura do Papa Francisco, reconhecida por sua influência global, poderia ser uma aliada importante nesse sentido.


No entanto, a mudança de postura de Milei também pode ser interpretada como oportunismo político, visando a capitalizar a comoção gerada pela morte do Papa. A imagem de um presidente que outrora atacou o pontífice, agora prestando homenagens e pedindo desculpas, pode gerar controvérsia e intensificar as divisões na sociedade argentina.


A relação entre Milei e o Vaticano, portanto, permanece como um tema complexo e em constante evolução, com implicações políticas e religiosas que transcendem as fronteiras da Argentina. O legado do Papa Francisco, marcado por sua defesa dos pobres, sua preocupação com as questões ambientais e seu apelo à paz, continuará a inspirar debates e reflexões sobre o futuro da Igreja Católica e o papel da religião no mundo contemporâneo. 


A história do pedido de perdão de Milei a Francisco certamente se tornará um capítulo importante nessa narrativa, um testemunho das complexidades das relações humanas e da busca pela reconciliação em um mundo marcado por polarizações e conflitos.


Esdras Trajano Leal 

João Pessoa,26/04/2025.





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